Por Edilza Fontes (UFPA)
A Bubônica” foi encenada no Pará, em 1904, e publicada, no mesmo, ano na seção de obras de “A Província do Pará”. “A Bubônica” foi apresentada como uma revista de sucessos paraenses, em um ato e quatro quadros. Foi musicada pelo maestro paulista Dr. Assis Pacheco e o seu autor é João Marques de Carvalho.
Os personagens já expressam qual a função dessa obra de Marques de Carvalho. São 59 personagens e foi contextualizada para Belém do Pará no início do século XX. Foi impressa na oficina do jornal “A Província do Pará” e a companhia de operetas de Silva Pinto foi quem apresentou o espetáculo no Teatro Polytheama, no dia 11 de maio de 1904, mesmo ano da revolta da vacina no Rio de Janeiro.
João Marques de Carvalho já tinha escrito, em 1885, um ato chamado "Entre Parênteses", em uma revista de costumes, já havia escrito também "O Seringueiro", em 1898, e Hortência, onde o autor se assume como naturalista, escola que o autor queria representar na Amazônia. Marques de Carvalho apresentava-se como literato e é como tal que devemos analisar "A Bubônica": uma obra datada e repleta de significados e exemplos de uma coletividade de escritores que pensavam que a literatura dava oportunidade para expor e intervir na sociedade, defendendo um projeto de República e de Nação.
Marques de Carvalho é um literato do seu tempo, do tempo do velho intendente. Pensa a cidade como espaço de intervenção do poder público, inserido em um contexto de conflitos e procurava a intervir em um processo histórico que, hoje, podemos analisar como um projeto vinculado à seringa listas e a um projeto republicano excludente e oligárquica.
Nesse sentido, devemos ler "A Bubônica" como um texto político que se propõe a analisar os costumes do povo paraense, seus hábitos culturais e resistentes a um processo civilizatório.
Ler "A Bubônica", mais de um século depois, é pensar um texto que fez parte de um projeto político que se implantou no Pará. Não é um discurso, uma representação ou um imaginário. É um texto que expressa uma das formas de intervenção, nos embates políticos travados em Belém no início do século XX. O texto faz parte de uma data da leitura política dos hábitos e costumes paraenses, aliados a elementos de uma leitura médica e outro elemento que se somou, foi uma data leitura das necessidades exigidas pela modernidade para alcançar a civilização. Essa leitura de Marques de Carvalho indica como poder público leu e interpretou aspectos da cultura do povo no Pará. Essa forma de ver o mundo foi a base para a construção de políticas, visando erguer uma Belém “civilizada”. Ele pensava que era necessário, entre outras coisas, ter ações pedagógicas, educativas e esclarecedoras, voltadas para um povo repleto de heranças "primitivas", " condenáveis" e "incivilizadas".
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