Por Antonio Otaviano Vieira Junior (UFPA)
Ao longo do tempo percepções sobre epidemias tem explicações que posteriormente são consideradas, no mínimo, curiosas. Em 1683, Romão Mosia Reinhipo (pseudônimo de Simão Pinheiro Mourão) associou a causa da varíola e do sarampo ao “sangue menstruo, de q no ventre de nossas mays nos sustentamos, que como he alimento tão perverso [...] q do sangue menstruo mais delgado se faz o Sarampo, & do mais crasso as Bexigas...”. Ainda segundo Romão Reinhipo, a passagem de um cometa em 1664 foi a causa da intensificação das possibilidades de aparecimento das bexigas e do sarampo, pois estas doenças supostamente viriam do aquecimento do sangue: “do nosso Brasil seja naturalmente quente & húmido, mais capaz para estes fervores, junto com o incêndio do Cometa, faz mais estes efeitos nesta America com estes fervores”. Em 1776, o médico do rei Carlos III da Espanha, Antonio Perez de Escobar, registrava que o sarampo e a varíola se propagavam “en forma de vapor”. Tais explicações podem esconder depreciações sociais. Seriam as mulheres culpadas por epidemias ou seriam os nativos e moradores de regiões mais próximas da linha do Equador os mais propensos às doenças? E hoje, em pleno século XXI, ainda paira sob nós o medo de um complô chinês baseado em sopa de morcego. Parece que o tempo não passou tanto assim... quando pensamos as epidemias!
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