quinta-feira, 9 de abril de 2020

Como o futuro lembrará da Covid-19

Por Antonio Otaviano Vieira Junior (UFPA)

Hoje pode nos causar estranhamento as explicações e os combates de epidemias em tempos passados.
Em 1683, Romão Mosia associou a causa da varíola e do sarampo ao “sangue menstruo, de q no ventre de nossas mays nos sustentamos, que como he alimento tão perverso [...] q do sangue menstruo mais delgado se faz o Sarampo, & do mais crasso as Bexigas...”. Ainda segundo Romão Mosia, a passagem de um cometa em 1664 foi a causa da intensificação das possibilidades de aparecimento das bexigas e do sarampo, pois estas doenças supostamente viriam do aquecimento do sangue: “do nosso Brasil seja naturalmente quente & húmido, mais capaz para estes fervores, junto com o incêndio do Cometa, faz mais estes efeitos nesta America com estes fervores”.
A febre amarela que provavelmente chegou na América lusitana no século XVII, passou a ser conhecida em Pernambuco apenas como “males” e na Bahia como “bichas”, deixando um rastro de morte. Em Recife, foi alvo de uma série de medidas preventivas: fogueiras acesas com ervas aromáticas por um mês, tiros de canhões pelo menos três vezes ao dia, expulsão das meretrizes do centro da cidade, purificação das casas, nos domicílios dos mortos jogava-se cal no chão e queimavam-se defumadores, os doentes foram enviados para longe da cidade e suas roupas e colchões lavados por três vezes ou queimados, sepultamentos foram feitos em covas mais fundas e em locais afastados do aglomerado urbano.
Por um exercício de imaginação pergunto: como no ano de 2120 serão lembradas nossas explicações para a epidemia da Covid-19 (com direito a imagem do momento preciso de contaminação da célula pelo virús) e a indicação do uso da cloroquina?

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